65 mil alunos sem inglês por "liberdade de escolha"

A ex-ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, uma das oradoras do painel "Mais estado, menos liberdade?", deu exemplos concretos de como uma redução da intervenção do Estado pode ser prejudicial à livre opção.
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A liberdade é de esquerda ou de direita? A liberdade define-se contra o Estado, contra o Estado, através do Estado ou apesar do Estado eram algumas das perguntas lançadas para este debate. Não houve, como quase nunca há quando se discutem estes valores, respostas concretas. O painel era composto por Maria de Lurdes Rodrigues, ex-ministra da Educação, Teresa Almeida Cravo, professor de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e José Ferreira Machado, economista, doutorado pela universidade norte-americana de Illinois.

O debate acabou por se centrar nas políticas de Educação e foi neste campo que Maria de Lurdes Rodrigues defendeu que este sector "é um caso típico de que é preciso mais Estado e menos mercado". Argumentando sobre a posição de José Machado, que defende a "liberdade de escolha", quer das famílias, em escolher a escola dos filhos, quer das próprias escolas em escolher os professores, a ex-governante socialista deu um exemplo concreto: "o nosso Governo definiu o ensino do inglês no ensino básico e deu liberdade de escolha às famílias para optarem. O resultado foi 100% das escolas aderirem e 90% das famílias escolherem. O novo Governo deu liberdade de escolha às escolas. Resultado foi 65 mil alunos ficarem sem o inglês".

Maria de Lurdes Rodrigues, que acredita na "igualdade" como um valor determinante no sistema educativo, considera que "há mínimos que o Estado tem de garantir" porque "as famílias com fracos recursos são quem precisa de maior intervenção do Estado".

Teresa Almeida Cravo concordou, salientando que "quando se coloca a questão da liberdade de escolha, esquecemo-nos de que estamos a tentar atingir a qualidade e a igualdade". No seu entender, "quando olhamos para o sistema de ensino, por exemplo, nos EUA, percebemos que os problemas da desigualdade não foram resolvidos". Teresa Cravo lembra que, na sua experiência de professora, "cada vez mais, com a austeridade, há potenciais alunos que se auto-limitam e decidem não ir para a faculdade. Isso infringe toda a nossa noção de liberdade de forma muito séria".

José Machado, pensa que a intervenção do Estado "não estimula a recompensa das melhores experiências", invocando, como "mau exemplo da centralização do planeamento", a ex-URSS. A forma "centralizada" de organização da colocação de professores, com os "problemas que têm acontecido", é para este economista, em como a intervenção do Estado pode ser "prejudicial à liberdade individual e criar gerações limitadas". "A competição com avaliação é um elemento essencial de liberdade".

Maria de Lurdes Rodrigues contesta e dá como exemplo a Suécia, que fez essa opção, dando liberdade de escolha. "Houve um abaixamento da Suécia nos rankigs do PISA e o Ministro da Educação teve de rever a sua posição. Não se trará de uma questão ideológica. É verdade que o Estado não faz tudo bem, mas faz muitas coisas bem".

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